Um episódio ocorrido durante a Parada LGBT de Belfast, na Irlanda do Norte, em 27 de julho, provocou reações entre líderes cristãos e representantes políticos conservadores. Um homem compareceu ao evento vestido de maneira que remetia a Jesus Cristo, utilizando uma túnica, uma coroa de espinhos falsa e portando uma grande cruz dourada. A cena gerou críticas por parte de setores religiosos e políticos que a consideraram ofensiva à fé cristã.
A imagem do homem vestido como Jesus foi inicialmente publicada na página do grupo ativista Progressive Politics NI, que posteriormente excluiu o conteúdo. A publicação original mostrava o homem ladeado por outras pessoas trajando símbolos associados a causas LGBTQIA+, incluindo uma mulher envolta em uma bandeira transgênero e outra com uma auréola de arco-íris e asas vermelhas.
O escritor Adam James Pollock, natural da Irlanda do Norte, criticou a cena em seu perfil na rede social X: “A Parada do Orgulho Gay de Belfast neste fim de semana contou com um indivíduo vestido de Jesus, com direito a uma coroa de espinhos falsa, dançando pela rua e cumprimentando seus apoiadores com high-fives. Estou incrivelmente cansado dessa bobagem e farto de como os ataques ao cristianismo são corriqueiros”.
O partido conservador Traditional Unionist Voice (TUV) também se posicionou publicamente sobre o caso. Ann McClure, porta-voz de igualdade da legenda, classificou a performance como “profundamente ofensiva” e questionou o que chamou de tratamento desigual em relação às religiões:
“Não só vimos os exemplos habituais de blackface do século XXI, com paródias grotescas de feminilidade em desfile e demonstrações abertamente sexuais, mas também havia alguém vestido como Jesus Cristo — com uma coroa de espinhos de mentira — dançando pela rua e cumprimentando as pessoas na calçada. Isso é extremamente ofensivo aos cristãos e não seria tolerado se fosse direcionado a outras religiões. O Belfast Pride gosta de se retratar como ousado e antissistema, mas não haveria como zombar de Maomé dessa forma. O cristianismo, por outro lado, é considerado um alvo fácil”.
A crítica se estendeu também ao apoio institucional que a Parada teria recebido de órgãos públicos. Segundo o site oficial do Belfast Pride, o evento conta com apoio do Conselho Municipal de Belfast e da Agência de Saúde Pública da Irlanda do Norte. A TUV declarou que pretende questionar a legalidade da participação de tais entidades, à luz da Seção 75 da Lei da Irlanda do Norte de 1998, que exige que autoridades públicas promovam boas relações entre pessoas de diferentes religiões e crenças.
“A TUV desafiará os órgãos do setor público que usaram dinheiro dos contribuintes para comprar um lugar no desfile, perguntando como a participação foi compatível tanto com suas obrigações da Seção 75 para pessoas de diferentes crenças religiosas quanto com a exigência de um local de trabalho apolítico”, afirmou McClure. Ela acrescentou que havia agentes do governo acompanhando o desfile e questionou por que o ato não foi impedido: “A Belfast Pride não pode se esquivar deste ataque ao cristianismo. Havia agentes federais presentes ao longo da rota, e mesmo assim este indivíduo foi autorizado a prosseguir”.
A Parada LGBT de Belfast foi fundada em 1991 e é organizada anualmente pela Belfast Pride. Segundo os organizadores, trata-se do “maior evento do ano para pessoas LGBTQIA+ de Belfast”. Em nota oficial, a organização definiu o evento como “um protesto e uma celebração, um apelo à igualdade, uma posição de solidariedade e uma celebração das vidas das pessoas LGBTQIA+ em Belfast e além”.
A união civil entre pessoas do mesmo sexo foi legalizada na Irlanda do Norte em janeiro de 2020, após uma alteração promovida pelo Parlamento do Reino Unido. A medida colocou a província em conformidade com o restante do Reino Unido, onde a união LGBT já era legal na Inglaterra, Escócia e País de Gales desde 2014, de acordo com o The Christian Post.