O Que Significa “Cânon Bíblico”?
O termo “cânon” vem do grego kanōn, que significa “regra” ou “padrão”. Quando falamos de cânon bíblico, estamos nos referindo à coleção de livros considerados inspirados por Deus e, portanto, normativos para a fé e prática cristã. Ou seja, o cânon é o conjunto dos livros que compõem a Bíblia como a conhecemos hoje.
Por Que Precisamos de um Cânon?
Nos primeiros séculos da igreja, diversas cartas, evangelhos e escritos circulavam entre os cristãos. Alguns deles eram genuínos e edificantes; outros, no entanto, estavam cheios de doutrinas falsas. Diante disso, a igreja reconheceu a necessidade de definir claramente quais livros eram autênticos, inspirados pelo Espírito Santo, e deveriam ser lidos e ensinados como Escritura.
O Cânon do Antigo Testamento
O cânon do Antigo Testamento já estava amplamente estabelecido no tempo de Jesus. Ele e os apóstolos frequentemente citavam “as Escrituras”, referindo-se ao que hoje conhecemos como os 39 livros do Antigo Testamento protestante (ou 46 na contagem católica, que inclui os livros deuterocanônicos).
Os judeus do primeiro século tinham um tripé de autoridade:
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A Lei (Torá) — os cinco livros de Moisés
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Os Profetas — livros históricos e proféticos
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Os Escritos — como Salmos, Provérbios e outros
Jesus faz referência a essa divisão em Lucas 24:44: “Tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos deve se cumprir.”
O Cânon do Novo Testamento
O Novo Testamento foi formado gradualmente entre o século I e o IV. Ao final do século II, a maioria dos livros já era amplamente reconhecida. Entre os critérios usados para incluir um livro no cânon estavam:
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Apostolicidade: ligação direta com um apóstolo ou testemunha ocular
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Ortodoxia: fidelidade à doutrina ensinada por Jesus e os apóstolos
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Uso universal: aceitação e uso generalizado entre as igrejas cristãs
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Inspiração reconhecida: confirmação do Espírito Santo na vida da igreja
Em 367 d.C., Atanásio de Alexandria publicou uma carta listando os 27 livros do Novo Testamento exatamente como temos hoje. Esse reconhecimento foi confirmado por diversos concílios posteriores, como o de Cartago em 397 d.C.
O Cânon é uma Escolha Humana?
Uma ideia equivocada é pensar que a igreja escolheu os livros da Bíblia. A realidade é que ela reconheceu os livros que já carregavam autoridade divina e que eram guiados pelo Espírito Santo. A formação do cânon foi mais um processo de confirmação do que de seleção arbitrária.
Como afirmou Bruce Metzger:
“Os livros do Novo Testamento não se tornaram autoridade da igreja porque foram formalmente incluídos em uma lista canônica, mas a igreja os incluiu em sua lista porque já os considerava divinamente inspirados.”
E os Livros Apócrifos?
Os chamados “apócrifos” são livros que foram escritos entre o Antigo e o Novo Testamento. A Igreja Católica os chama de deuterocanônicos e os inclui no Antigo Testamento. Já os protestantes os consideram úteis historicamente, mas não inspirados. Esses livros incluem Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, entre outros.
A Reforma Protestante, especialmente com Martinho Lutero, reforçou a autoridade dos 66 livros (39 do Antigo e 27 do Novo), reafirmando que apenas eles carregavam inspiração divina.
Por Que Isso Importa?
Compreender o cânon bíblico fortalece nossa confiança na Bíblia como Palavra de Deus. Saber que houve um processo criterioso e guiado por líderes piedosos e estudiosos da fé mostra que a Bíblia não é uma coleção aleatória, mas uma revelação ordenada e confiável.
Além disso, a existência do cânon também:
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Protege a igreja contra falsos ensinamentos
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Preserva a unidade da fé cristã
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Fornece um alicerce sólido para a pregação e a doutrina